Portugal observa dos céus, mas hesita em acionar apoio europeu

Portugal enfrenta mais uma vez os desafios de um verão marcado por incêndios florestais, e, ainda que tenha recorrido às imagens de satélite para monitorização, o país ainda não formalizou o pedido de ajuda ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil. A hesitação levanta questionamentos sobre a estratégia do governo perante uma ameaça que se repete ano após ano, com impactos ambientais, sociais e económicos profundos.
As imagens captadas por satélites, solicitadas por Portugal, servem como uma poderosa ferramenta de vigilância, permitindo identificar focos de incêndio, calcular a extensão das áreas ardidas e orientar as forças no terreno. Trata-se de um recurso tecnológico valioso, mas que, por si só, não é suficiente quando o combate ao fogo ultrapassa a capacidade operacional nacional.
O Mecanismo Europeu de Proteção Civil, criado precisamente para situações como esta, permite que os Estados-Membros solicitem assistência rápida e coordenada da União Europeia, incluindo o envio de meios aéreos, equipas especializadas e apoio logístico. Contudo, apesar das condições críticas em algumas regiões portuguesas, ainda não foi ativado o pedido formal junto desta estrutura europeia.
A aparente relutância em recorrer ao mecanismo pode ter várias explicações. De um lado, há quem defenda que as autoridades portuguesas ainda mantêm uma margem de resposta operacional e preferem preservar a autonomia nacional nas primeiras fases do combate. De outro, não são poucos os que argumentam que existe um certo receio político em assumir que a situação escapou ao controlo interno — um receio que, em última instância, pode comprometer a eficácia da resposta e a segurança da população.
Entretanto, nas localidades afetadas, os bombeiros continuam a atuar em cenários adversos, enfrentando temperaturas extremas, ventos imprevisíveis e acessos difíceis. A população, por sua vez, vive dias de angústia, com algumas comunidades isoladas e propriedades em risco iminente. O impacto ecológico também se acumula, com vastas áreas de floresta consumidas pelas chamas e a biodiversidade ameaçada.
Esta postura de “esperar para ver” por parte do governo pode custar caro. A experiência dos últimos anos mostra que a rapidez na resposta é um fator decisivo no sucesso das operações de combate e na mitigação dos danos. A ajuda europeia está disponível e tem sido eficaz em diversos episódios anteriores, tanto em Portugal como noutros países.
Num cenário em que os incêndios se tornam mais frequentes e intensos devido às alterações climáticas, a estratégia de resposta precisa ser mais ágil, transparente e centrada na cooperação internacional. A hesitação pode ser lida como prudência, mas, perante a fúria dos incêndios, o tempo é um luxo que o país não pode desperdiçar.