Olga Cardoso: a voz inesquecível da rádio portuguesa que nos deixa

Olga Cardoso

Morreu Olga Cardoso, reconhecida figura da comunicação social portuguesa. A antiga locutora de rádio e apresentadora de televisão tinha 91 anos e sofrera um AVC grave, que a internou num hospital do Porto. A notícia da sua morte marca o fim de uma era para inúmeros ouvintes e espetadores que a acompanharam ao longo de décadas.

Natural do Porto, Olga Cardoso iniciou a sua carreira ainda muito jovem, participando em radionovelas aos 15 anos de idade. Com o tempo, passou pela Rádio Porto e Rádio Clube do Norte, até que em 1964 abraçou o que viria a ser o seu palco maior: a rádio nacional. Foi na emissora que então se tornava a grande referência de som e palavra em Portugal que Olga ganhou projeção, entrando para a equipa de uma das vozes mais reconhecidas do país.

Durante mais de vinte anos, foi a voz feminina do programa matinal “Despertar”, uma companhia diária para milhares de portugueses. A sua sintonia com o colega de estúdio marcou um ciclo inesquecível na história dos media: de Lisboa ao Porto, de fones nos ouvidos a lares despertando para as manhãs, Olga e o parceiro de microfone criaram uma relação de proximidade com a audiência que muitos descrevem hoje como familiar. A sua forma de comunicar, natural e próxima, fez com que muitos colocassem nela a voz do início do dia.

Mas a carreira de Olga não se limitou ao rádio. Na década de 1990, fez a transição para a televisão, assumindo um programa que a tornaria ainda mais popular: o concurso “A Amiga Olga”, na estação recém-criada TVI. Apesar de o formato ser simples — conversas rápidas com concorrentes a evitar a palavra “sim” ou “não” —, foi suficiente para cimentar o seu nome no imaginário popular. A sua imagem televisiva trouxe uma nova legião de admiradores, mantendo-a relevante num meio diferente daquele em que começara.

Para além do sucesso mediático, Olga viveu uma vida marcada também pela família. Foi mãe e tornou-se avó, sempre mantendo laços estreitos com os seus entes mais próximos. Nos últimos anos, enfrentou a doença de Parkinson, o que não a impediu de continuar a expressar a sua paixão pela vida, coordenando-se com limitações físicas, mas com firmeza de carácter e bom humor.

O AVC que sofrera deixou-a internada com prognóstico reservado. A perda de uma voz tão marcante para gerações assinala um momento de dor e de reflexão sobre o papel da comunicação e das pessoas que a fazem. Com Olga Cardoso, parte uma camada importante da memória coletiva: aquela feita pela voz, pela confiança no microfone, pela cumplicidade entre locutora e ouvinte.

Hoje despedimo-nos de “A Amiga Olga”, mas guardamos a sua memória — o timbre, a cadência, o carinho com que se dirigia a quem a ouvia. Num panorama mediático cada vez mais efémero, a sua carreira permanece como exemplo de dedicação, talento e empatia. O País perde uma voz, mas conserva uma história — uma história que vale a pena recordar.