O Segredo das Castanhas Assadas Como as da Rua: A Arte de Recriar o Magusto em Casa

Existe algo quase mágico no aroma inconfundível das castanhas assadas que paira no ar durante o outono. No entanto, reproduzir em casa o encanto das castanhas vendidas nas ruas — crocantes por fora, macias por dentro e com aquele sabor fumegante — pode parecer um desafio para muitos. Com anos de experiência cobrindo gastronomia portuguesa, posso afirmar: há técnica e sabedoria ancestral por trás desse petisco tão tradicional.

O primeiro passo para transformar castanhas noutras perfeitas está na escolha. Não serve qualquer castanha; é importante seleccionar frutos firmes, sem sinais de murchidão ou buracos — isso garante textura e segurança no momento da assadura. Depois de bem lavadas, cada castanha deve receber um corte cuidadoso, pouco profundo, geralmente na base ou formando uma cruz. Este golpe evita que elas “explodam” dentro do forno ou tacho, ao mesmo tempo que facilita o processo de descascar.

Mas o grande truque, que muitos chefs domésticos aprendem com assadores de rua, está num banho prévio: as castanhas golpeadas devem ser colocadas numa tigela com água a ferver e sal grosso, deixadas de molho por cerca de vinte minutos. Esta imersão controla a temperatura interna da castanha e ajuda a soltar a pele interna mais facilmente, um segredo que reduz bastante o trabalho na fase de descascar.

Enquanto isso, o forno deve estar pré-aquecido a uma temperatura elevada — muitos recomendam cerca de 250 °C. As castanhas são colocadas sobre um tabuleiro polvilhado com mais sal grosso, que funciona não só como tempero, mas também como regulador de calor, ajudando a assar de forma uniforme e evitando que queimem. Depende do tamanho, mas geralmente uma assadura de vinte minutos é suficiente para que fiquem estaladiças por fora e tenras por dentro.

Ao saírem do forno, a experiência mais autêntica exige um último gesto de envelhecimento: borrifar levemente as castanhas com água e abafar com um pano durante alguns minutos. Esse método permite que o vapor ajude a soltar ainda mais a casca interna — exatamente como nas castanhas dos carrinhos de rua, onde o calor se reflete e forma umidade sob os panos usados pelos vendedores.

Para quem se incomoda com o sal, é possível ajustar a quantidade, mas não eliminá-lo por completo: o sal é parte integrante da textura e do sabor característicos. Por outro lado, há quem complemente com ervas aromáticas como alecrim ou erva-doce durante a assadura, enriquecendo o aroma sem descaracterizar a tradição. Além disso, para os que valorizam a praticidade, explorar métodos alternativos como a “airfryer” ou fogareiros domésticos pode render castanhas igualmente saborosas, embora sem todo o charme do magusto tradicional.

Mas a autêntica experiência portuguesa não se resume apenas ao método de cozinhar. O ritual de comer castanhas assadas implica partilhar — seja num magusto improvisado no quintal, num final de tarde com amigos, ou mesmo ao sozinha com uma caneca de água-pé ou jeropiga. Nesse momento, as castanhas quentes tornam-se combustível emocional, evocando memórias de infância, de festas de São Martinho e de risos ao calor de brasas.

Mesmo com fornos modernos e eletrodomésticos sofisticados, reproduzir o aroma das castanhas vendidas na rua continua a exigir paciência e respeito pela técnica. É preciso assegurar dias frescos para armazenar bem os frutos, escolher castanhas firmes, preparar o banho, fazer o corte, assar com sal grosso e abafar no final. Mas quando os frutos finalmente estalam ao primeiro toque e liberam aquele perfume doce e tostado, a recompensa é completa.

Em casa, com cuidado e dedicação, conseguimos voltar a “fazer a rua”: transformar a cozinha num ponto de encontro, recriar memórias de outonos passados e devolver ao paladar o sabor simples e autêntico das castanhas assadas de antigamente. E este, sem dúvida, é o maior truque de todos.