Alerta Silencioso: Como a Europa se Prepara para um Apagão que Ninguém Vê — Mas Todos Temem

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen
A União Europeia vive um paradoxo: enquanto líderes evitam pronunciar a palavra “apagão” em público, documentos internos da Comissão Europeia revelam orientações diretas para que cidadãos estoquem água, alimentos não perecíveis e velas. O aviso, vazado em meio a tensões geopolíticas e uma crise energética sem precedentes, expõe um continente que se vê obrigado a se preparar para o pior — mesmo que o pior ainda seja invisível.
O Relatório que Ninguém Quer que Você Leia (Mas Todos Precisam Saber)
Em comunicados restritos a governos nacionais, a Comissão Europeia detalha cenários de colapso energético decorrentes de ataques cibernéticos a usinas, instabilidade em rotas de gás natural e até eventos climáticos extremos. O tom é técnico, mas a mensagem, clara: “Famílias devem ter reservas para 72 horas de autonomia”. A recomendação, porém, não foi acompanhada de campanhas públicas. Para analistas, o silêncio oficial é estratégico. “Reconhecer publicamente o risco seria admitir falhas estruturais”, diz um ex-funcionário de alto escalão da UE.
O paradoxo ilustra o dilema europeu: como alertar sem causar pânico? Enquanto países como Alemanha e França distribuem guias discretos de sobrevivência, supermercados na Itália e Espanha registram aumento de 30% na venda de enlatados e geradores portáteis.
Entre a Prudência e o Pânico: O Cidadão no Centro da Tempestade
Em Berlim, a aposentada Helga Schmidt, 68, mostra uma despensa repleta de conservas e galões de água. “Não espero o fim do mundo, mas aprendi com meus pais, que viveram a guerra. Hoje, a guerra é outra”, diz. Em contraste, jovens urbanos como o francês Luc Moreau, 25, ignoram as orientações. “Se o sistema cair, meu celular também vai. Estamos todos fodidos mesmo”, brinca, em um misto de cinismo e descrença.
A divisão reflete mais que gerações: é um sintoma da desconexão entre políticas de austeridade e a realidade cotidiana. Enquanto governos investem em green deals e transição energética, cidadãos comuns questionam por que, em pleno século XXI, são instruídos a agir como em eras pré-industriais.
As Peças do Quebra-Cabeça do Apagão
Três fatores convergem para a crise em gestação:
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Dependência de fontes instáveis: O gás russo, ainda não totalmente substituído, e a lentidão na adoção de energias renováveis;
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Infraestrutura envelhecida: Redes elétricas de países como Portugal e Grécia operam no limite há anos;
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Ameaças híbridas: De hackers patrocinados por Estados a sabotagens físicas, como as suspeitas em gasodutos no Mar Báltico.
Para especialistas em segurança energética, a Europa subestimou sua vulnerabilidade. “Aprendemos com a pandemia que não estamos prontos para desastres prolongados. Agora, repetimos o erro com a energia”, alerta uma consultora de risco radicada em Bruxelas.
O Tabu Político: Quando a Prevenção Virou Derrota
A relutância em discutir publicamente o risco de apagão tem raízes políticas. Governos temem associar suas gestões a cenários catastróficos em um ano marcado por eleições-chave, como o pleito europeu de 2024. “Nenhum partido quer ser lembrado como o ‘profeta do apocalipse'”, explica um cientista político.
O resultado é uma dança de ambiguidades. Na Alemanha, o ministro da Economia afirma que “o abastecimento está garantido”, mas o site oficial do governo lista “kits de emergência” como prioridade. Na França, usinas nucleares antigas operam com permissões especiais, enquanto a mídia local evita o tema.
A Luz no Fim do Tunel (Ou a Sua Ausência)
Enquanto governos aceleram projetos de energia solar e eólica, a pergunta que persiste é: essas medidas chegarão a tempo? A Comissão Europeia estima que a capacidade de armazenamento de baterias precisará quadruplicar até 2030 para evitar colapsos — um desafio logístico e financeiro gigantesco.
Para o cidadão comum, porém, o horizonte é mais imediato. Na Letônia, onde exercícios de blecaute já são realidade em escolas, a professora Inga Volkova reflete: “Ensinamos crianças a usar rádios a pilha, mas não sabemos explicar por que isso é necessário. Que mundo estamos deixando?”
Conclusão: O Preço da Luz que se Apaga
O silêncio europeu sobre o risco de apagão não é mera omissão — é um sintoma de uma era onde governos hesitam em admitir fragilidades, e cidadãos oscilam entre a despreocupação e o acúmulo de latas de feijão. Enquanto isso, a infraestrutura que sustenta o continente range sob pressões que poucos ousam nomear.
Se o apagão chegar, não será por falta de aviso. Será, talvez, por excesso de silêncio. E nesse cenário, as velas que a Comissão pede para estocar iluminarão mais que ambientes escuros: revelarão o custo de se preparar para o invisível, enquanto se finge que tudo está sob controle.