Esquerda fecha coligações pré-eleitorais para travar avanço do Chega

Ainda sem coligação fechada, Alexandra Leitão anda a fazer campanha por Lisboa Rui Gaudêncio

Lisboa – A esquerda portuguesa está a apertar o passo nas negociações para constituir coligações pré-eleitorais, numa tentativa de travar o crescimento do Chega e evitar que a extrema-direita se afirme como força dominante no Parlamento. Os diálogos intensificaram-se entre partidos como o Bloco de Esquerda, Livre, PAN e até sectores do Partido Socialista, que encaram a união como uma resposta estratégica à ameaça da radicalização do discurso político.

O crescimento do Chega tem gerado alarme nas forças progressistas, que receiam uma alteração profunda na paisagem democrática do país. Nesse sentido, os contactos entre dirigentes partidários têm como objectivo delinear acordos locais ou regionais que permitam maximizar votos e garantir representação em círculos onde a dispersão pode ser fatal.

Há também quem defenda listas conjuntas, especialmente em distritos mais pequenos, como forma de assegurar mandatos que, de outro modo, poderiam cair nas mãos da direita ou da extrema-direita. Apesar das divergências ideológicas que historicamente afastaram estas forças, cresce o entendimento de que o momento exige pragmatismo e cooperação.

No seio do Partido Socialista, ainda que com reservas, há abertura para pactos pontuais, sobretudo com o Livre e o PAN, partidos com os quais partilha algumas bandeiras sociais e ambientais. Já o Bloco de Esquerda defende uma frente ampla e plural, mas sublinha a necessidade de manter a identidade de cada força política.

O principal desafio reside em encontrar consensos que respeitem a autonomia partidária e, ao mesmo tempo, respondam à urgência de conter o avanço do populismo. A ideia de uma frente progressista não é nova, mas ganha novo fôlego perante o crescimento da direita radical, que ameaça monopolizar o debate político com propostas simplistas e polarizadoras.

Analistas consideram que esta articulação pode ser decisiva para alterar a correlação de forças no Parlamento e evitar que a próxima legislatura fique refém de discursos extremistas. A esquerda tenta assim não apenas resistir, mas também afirmar uma alternativa sólida, capaz de inspirar o eleitorado com propostas concretas para os desafios sociais, económicos e ambientais do país.

O panorama é desafiante, mas há sinais claros de que a esquerda portuguesa está disposta a pôr de lado rivalidades antigas para construir pontes que assegurem estabilidade democrática e contenção ao avanço da extrema-direita.