“Dupla Jornada: O Dilema Moderno Entre Ser Mãe e Profissional”

A maternidade no século XXI se transformou em uma complexa equação onde amor, culpa e ambição precisam ser balanceados diariamente. Enquanto o mercado de trabalho exige disponibilidade total, os filhos demandam presença integral, milhões de mulheres brasileiras travam uma batalha silenciosa para encontrar seu lugar nesse delicado equilíbrio.
Especialistas apontam que o desafio começa na própria estrutura social. “Ainda vivemos numa cultura que espera que a mãe seja a principal, quando não exclusiva, responsável pela criação dos filhos, enquanto simultaneamente pressiona as mulheres a terem carreiras tão bem-sucedidas quanto as dos homens”, analisa uma renomada psicóloga especializada em dinâmicas familiares. Essa cobrança dupla gera o que os estudiosos chamam de “sobrecarga emocional materna”.
No ambiente corporativo, os obstáculos se multiplicam. Mulheres relatam ter de provar constantemente que a maternidade não afetou seu comprometimento profissional, enquanto muitas escondem fotos de filhos em processos seletivos por medo de discriminação. Por outro lado, quando optam por priorizar a carreira, enfrentam o julgamento social por “não serem mães dedicadas o suficiente”.
A tecnologia, que prometia facilitar a conciliação, muitas vezes intensificou o problema. O home office eliminou fronteiras entre vida pessoal e profissional, criando uma jornada interminável onde reuniões virtuais se misturam com lições de casa e crises de birra infantil ao fundo das chamadas de Zoom. “É como se agora as mulheres precisassem estar 100% presentes em todos os lugares ao mesmo tempo”, comenta uma executiva mãe de gêmeos.
Algumas empresas começam a implementar políticas mais inclusivas, como horários flexíveis, salas de amamentação e licenças parentais estendidas. Mas especialistas alertam que a mudança precisa ser cultural. “Não adianta ter políticas se os gestores ainda veem com maus olhos quando uma mãe precisa sair mais cedo para buscar o filho na escola”, pondera uma consultora de recursos humanos.
O caminho para o equilíbrio parece passar por três eixos: a divisão mais igualitária das tarefas domésticas, a flexibilização real do mercado de trabalho e, principalmente, a redução da autocobrança feminina. “As mães precisam entender que não precisam ser perfeitas – precisam ser humanas”, aconselha uma terapeuta.
Neste Dia das Mães, talvez o maior presente que a sociedade possa dar às mulheres seja justamente a possibilidade de serem profissionais completas sem terem que abrir mão de serem mães presentes – e vice-versa. Afinal, como demonstram as pesquisas mais recentes, filhos de mães realizadas profissionalmente tendem a se tornar adultos mais seguros e independentes. Uma prova de que, quando a sociedade apoia as mães, toda a família – e a própria economia – saem ganhando.